Outro dia estava preparando um roteiro para uma família, primeira vez em Roma, e com tempo suficiente para dar uma boa volta pela cidade. Fuçando em muitos cantos, fiz um roteiro básico mas muito interessante. Mais interessante do que o roteiro "corrido" de três dias - modéstia à parte, um roteiro escrito por mim, é um verdadeiro chuchu! Enfim, recebo uma resposta tipo "gostei muito do roteiro, só o dia x está muito sacro". Achei muito interessante este comentário e pensei que este ponto de vista poderia ser o de muita gente, e resolvi dedicar aqui algumas palavras sobre o fato de Roma ter muitas igrejas e ir à igrejas em Roma (e iria tão longe e diria que nem é o caso só de Roma, mas da Itália inteira!) definitivamente não é uma atividade exclusivamente religiosa, mas de cunho artístico, cultural, histórico e social!
A figura do homem Jesus é estudada desde o Iluminismo e nos dias de hoje foram encontrados vários documentos importantes em grego, latim, aramaico e até árabe, que comentam sobre este personagem histórico importantíssimo. Goste ou não de Jesus, seja você cristão, protestante, judeu ou ortodoxo, Jesus (e consequentemente, o monoteísmo cristão) teve e tem um peso histórico de enorme relevância no percurso do desenvolvimento da sociedade ocidental, esta sociedade em que vivemos.
O mundo romano, do qual herdamos a língua, usos, costumes, arte, arquitetura e religião, foi completamente revolucionado pelo homem que nasceu Jesus e morreu Cristo. Em nome deste personagem histórico ocorreram assassinatos de massa (Nero, 64 d.C. e parte dos espetáculos dos circos de Roma), mudaram a forma em que nós cuidamos dos nossos parentes depois que morrem, foram erguidos os mais lindos e maiores templos que desafiam as leis da física e da estética (não creio que aqui sejam necessários exemplos!) e que foram parte fundamental para o desenvolvimento da arte e arquitetura do mundo. Isso, para não falar de como o Homem vê a si mesmo e seu semelhante, a ética e o calendário que dá a forma básica ao nosso cotidiano.
Fontana dos Mouros, Piazza Navona
Se você vem a Roma, como perder a chance de observar com atenção e entender um pouco da técnica dos pavimentos cosmatescos; do mosaico romano, que chega ao ponto de ser tão perfeito que pode dar a impressão de ser uma tela a óleo - e se não chamarmos a sua atenção para quando isso acontecer, você certamente não vai notar; do trabalho em mármore de precisão e beleza irrepetíveis da família Vassalletto nos pátios de algumas igrejas; a pintura romana da aurora do cristianismo, e como desde lá, a iconografia cristã se desenvolveu até chegarmos numa obra-prima como o teto da Capela Sistina?
A tão amada urbanização do centro-histórico de Roma com suas fontes e praças também foi "obra cristã", iniciada e desenvolvida ao longo dos séculos pelos papas. A Fontana de Trevi, que recebe água de uma nascente desde os tempos do famoso general de Augusto, foi uma "simples" licitação, iniciativa de Clemêncio XII para uma obra pública.
Depois das famosas viagens de Goethe, Lord Byron e Irmãos Grimm à Itália e a ligação das cidades européia através da linha de trem, vir a Roma começou a fazer parte da educação de jovens de boas famílias. Hoje em dia qualquer estudante europeu de Humanas sabe fazer um discurso coerente sobre a figura de Constantino, sobreBernini/Borromini ou a pintura de Caravaggio.
E a religião que inspirou todas essas obras, fica ao lado do legado estético, sociológico, antropológico e semiótico que deslumbra o viajante que recebe informações para olhar e ver tudo isso.
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